THINK TANK “Science to Health to Tech” - 1a Edição
Notícias | 01 setembro 2023 THINK TANK “Science to Health to Tech” - 1a Edição

H-INNOVA: HEALTH INNOVATION HUB 4.ª edição

No passado dia 23 de maio de 2023, a Nova SBE teve o prazer de receber a 1.ª edição do THINK TANK “Science to Health to Tech”, no âmbito da 4.ª edição do H-INNOVA: HEALTH INNOVATION HUB. Contando com a coordenação da PremiValor Consulting e com a participação de representantes de várias instituições associadas à prestação de serviços de saúde, entre as quais o Hospital Dr. Nélio Mendonça (SESARAM), Hospital de Santa Maria, IPO Porto, Hospital Santo António, Fundação Champalimaud, etc. - e de empresas/organizações de referência da área tecnológica incluindo a VODAFONE, ROCHE, MINSAIT-INDRA, DELL, CELFOCUS, FUTURE HEALTHCARE , foram debatidas as principais necessidades e expectativas ao nível dos hospitais e dos profissionais de saúde no sentido do acompanhamento da evolução tecnológica, incluindo os desenvolvimentos na vertente de data science e soluções baseadas na inovação.

Em primeiro lugar, uma das principais necessidades salientadas pela maioria dos hospitais refere-se ao uso da tecnologia de forma a auxiliar a agilização e otimização do trabalho dos profissionais de saúde, nomeadamente no sentido de libertar tempo normalmente dedicado a tarefas mecânicas e demoradas (ex.: registo dos dados do paciente e processo clínico) para o exercício de funções que assumem prioridade na prestação de serviços de cuidados de saúde. Neste sentido, procura-se a substituição de parte de tarefas administrativas que geralmente recaem sobre médicos e enfermeiros por parte da Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning, que trataria de proporcionar uma maior eficiência no processo de trabalho, através da promoção de sistemas digitais mais eficazes e “user friendly”. Neste seguimento, as soluções propostas passam, em primeiro lugar, pela substituição de sistemas de datilografia por sistemas de reconhecimento de voz e ditado (“Voice to Text”), havendo já projetos piloto neste sentido a ser implementados – nomeadamente, como referido pelo IPO do Porto, no uso de sistemas de reconhecimento de voz através de software para ditado na área da oncologia. Acrescente a isto, foi igualmente proposto o uso de “Text Mining” no âmbito da recolha de informação estruturada nos diários e relatórios clínicos, bem como de “Voicebots” no atendimento telefónico (utilizado já no Hospital de Santo António) com o objetivo de reduzir o número de chamadas não atendidas, sendo uma possibilidade a ponderar a expansão do uso de “Voicebots” para o agendamento e remarcação de consultas.

Associada à necessidade de crescente interligação entre o uso de processos inovadores com o trabalho de profissionais de saúde de forma a tornar mais eficiente e eficaz a prestação de serviços de saúde, é também de realçar a potencialidade de utilizar Inteligência Artificial e inovações tecnológicas na prevenção e monitorização de doenças. Efetivamente, foi proposto o uso de sistemas de IA na previsão e monitorização da evolução da gravidade de determinadas doenças, nomeadamente no papel de biobancos em analisar informações dos pacientes e antecipar problemas e agravantes. Neste sentido, destaca-se o uso de várias aplicações piloto que procuram a monitorização de sintomas por parte dos pacientes fora do contexto hospitalar, promovendo-se assim uma maior e mais eficaz comunicação entre médico e paciente, permitindo um papel muito mais ativo e interveniente na situação clínica deste último, bem como a personalização da jornada do doente. Exemplos destas aplicações incluem uma aplicação destinada à otimização da análise e tratamento do cancro da mama referida pela Fundação Champalimaud, ou a aplicação da FUTURE HEALTHCARE (“tytocare”) dirigida à prevenção e gestão de doenças crónicas (hipertensão, diabetes, etc.). Acrescente a isto, é também relevante mencionar o uso de IA e algoritmos clínicos na prevenção de doenças no contexto de rastreio, seja através da leitura de dados de hemograma com o intuito de identificar indivíduos com risco acrescido de desenvolver cancro do cólon (“colonflag”, mencionado pela ROCHE), ou no âmbito dos rastreios visuais para a deteção de glaucoma (“SmartGlauco”, referido pelo Hospital de Santa Maria).

Neste seguimento, surge também o contributo que a inovação tecnológica pode trazer para melhorar e tornar mais eficazes diversos procedimentos médicos, nomeadamente na vertente cirúrgica, com a robotização e a realidade virtual. Efetivamente, a cirurgia robótica é cada vez mais frequente, facilitada pelo uso do 5G e permitindo uma realidade mista no bloco operatório (ex.: Hospital de Santo António), fomentando a colaboração e teleconsultoria entre cirurgiões que se encontrem no bloco e que se encontrem presentes remotamente. Para além disso, a realidade virtual veio igualmente contribuir para melhorar a aprendizagem para estudantes de medicina, assegurando a transmissão de cirurgias em tempo real em contexto de aula. Com isto, coloca-se a possibilidade de se estabelecer futuramente um metaverso cirúrgico.

Do mesmo modo, destaca-se igualmente o papel da telemedicina no contexto das teleconsultas (que se têm vindo a expandir desde a pandemia, havendo uma necessidade de repensar o modelo e adaptá-lo à realidade pós-pandémica), bem como de ensaios clínicos virtuais e ecografias à distância (já implementadas na Alemanha). Para além disso, é também de referir o potencial uso da realidade virtual para rastreamento de pacientes em caso de acidente antes da chegada ao hospital (projeto piloto através da tecnologia 5G). Não obstante, com o crescente papel da inovação tecnológica no auxílio à prestação de cuidados de saúde, apresenta-se a necessidade de uma mais intensa intercolaboração não só entre unidades hospitalares e empresas tecnológicas, como também entre profissionais de saúde e utentes, sendo imprescindível a participação e comunicação ativa entre os vários atores na evolução tecnológica e adaptação à nova realidade na área da saúde. Para tal, é fundamental o investimento na literacia digital quer dos pacientes quer dos profissionais de saúde, o que poderá ser alcançado através de campanhas e sessões de formação e informação, bem como através de aplicações para dispositivos móveis que fomentem a partilha de informação com os doentes e agilizem os processos de agendamento e remarcação de consultas, a título de exemplo (ex.: App Santo António). De facto, a colaboração com os doentes deve ser fomentada através da sua inclusão mais ativa no processo e decisão clínicos, permitindo a partilha de informação imediata através de, por exemplo, plataformas e aplicações móveis, conectando assim o médico e o utente de forma remota entre consultas, permitindo um contacto mais direto e personalizado e possibilitando consultas presenciais mais rápidas e eficazes, sendo grande parte da informação relativa a sintomas e evolução da doença comunicada a priori remotamente.

No que respeita à intercooperação entre colaboradores na prestação de serviços de saúde e a sua participação ativa na adoção de novas tecnologias e predisposição para contribuírem para melhorar o serviço prestado pela unidade hospitalar, denota-se uma necessidade crucial de promover um ambiente aberto à partilha de ideias e à alocação de tempo aos colaboradores para se poderem dedicar a projetos inovadores, sendo fundamental a divulgação dos catálogos de projetos a desempenhar pela unidade hospitalar junto dos mesmos. No sentido de promover a sua motivação e sentido de pertença ao projeto da unidade hospitalar em que se enquadram, isto pode ser levado a cabo através do reconhecimento público em menções honrosas ao esforço dedicado ao alcance de determinado objetivo, ou ainda através da dedicação por parte de hierarquias superiores à promoção de um balanço entre a vida profissional e pessoal (por exemplo, ponderando a possibilidade de um dia de teletrabalho quando permitido pela tarefa a desempenhar). Assim sendo, uma mudança cultural nas instituições que passe pela valorização do indivíduo é fundamental nesta fase.

Relacionado com esta necessidade de intercooperação entre os vários atores no ecossistema da saúde, coloca-se igualmente, a par da exponencial evolução tecnológica, a necessidade de não se perder a humanização do contacto direto entre o doente e profissional de saúde, que cada vez mais poderá ser colocada em causa com a crescente mecanização de processos e evolução da telemedicina. Efetivamente, ainda que necessário e indispensável o papel da Inteligência Artificial e automação no futuro da prestação de serviços médicos, torna-se deveras fulcral promover e fomentar uma aproximação entre o médico e paciente, frequentemente separados por computadores e contacto impessoal. Para tal, é crucial incentivar o contacto ativo e colaborativo de partilha de informação que pode ser agilizado, como já referido, remotamente através de plataformas digitais que aproximem médico e paciente, sendo simultaneamente necessário garantir um contacto mais personalizado no contexto de consultas presenciais cuja tendência com a expansão da telemedicina passará por serem menos frequentes. Nesse sentido, apresenta-se fundamental repensar o consultório médico de futuro, passando a solução possivelmente por um ambiente menos impessoal, mais amplo, com computadores a separar doente e médico a serem substituídos por ecrãs que permitam um maior contacto e uma conversa mais direta.

Numa outra vertente, foi discutida a necessidade de incrementar a interoperabilidade entre os sistemas de saúde, nomeadamente no que respeita à padronização da linguagem médica e à implementação de um processo clínico único. Efetivamente, uma relativa porção do tempo dedicado ao registo de dados do doente deriva da falta de intercomunicação e cruzamento de dados entre as várias unidades de saúde - seja entre centros de saúde e hospitais, seja entre entidades públicas e privadas -, o que torna este processo mais demorado e repetitivo do que o necessário. Assim, apresenta-se como fundamental a criação de um identificador único de cada paciente que permita o acesso a toda a história clínica –surgindo neste ponto a questão de se o acesso à história clínica se encontra totalmente dependente da autorização por parte do doente, podendo este ter ou não o poder de vetar o acesso a entidades terceiras. Em linha com esta necessidade, apresenta-se como crucial a compilação dos dados clínicos por estruturar em livrarias de dados médicos, podendo ser operado através da sua transferência para Research PACS para posterior estruturação, permitindo a criação de ecossistemas de dados digitais que poderiam potencialmente ser utilizados por profissionais de saúde, universidades, centros de investigação, entre outros.

Contudo, surgem aqui pelo menos duas dúvidas e obstáculos na implementação deste objetivo. Em primeiro lugar, ainda que esforços para conectar e integrar inteiramente as unidades de saúde tenham já começado a ser implementados (ex.: Projeto BDAC nas Ilhas Baleares), o processo de estruturação dos dados é ainda complexo e de difícil implementação de forma totalmente otimizada, havendo ainda um longo percurso a percorrer até se conseguir resultados inteiramente satisfatórios neste âmbito. Por outro lado, coloca-se também a dúvida e incerteza relativamente ao acesso e tratamento dos dados recolhidos, bem como garantir a sua segurança e monitorização - quem autoriza a sua consulta e a que entidades este acesso deve ser permitido.

Deste modo, apresenta-se neste seguimento a última necessidade, referente à garantia da segurança e confidencialidade dos dados gerados, intimamente ligada com questões de ciber segurança. Neste contexto, apresentam-se largas dúvidas quanto à capacidade de garantir total privacidade de dados, sendo ataques informáticos uma possibilidade cada vez mais frequente na área (ex.: ataque informático ao sistema hospitalar na Irlanda no início da pandemia), dada a crescente relevância que os dados pessoais têm vindo a acarretar atualmente. Assim sendo, a capacidade de ciber resiliência e monitorização constante de forma a detetar prontamente anomalias no sistema que possam indicar falhas na segurança dos dados apresentam-se como fulcrais na resposta a esta necessidade, ainda que sejam difíceis de garantir dada a imprevisibilidade e rapidez de fugas de informação. Acrescente a isto, coloca-se a incógnita de como gerir o acesso aos dados gerados, nomeadamente como permitir o acesso apenas a determinadas entidades, surgindo aqui também a questão da definição de quais as entidades que possam usufruir deste acesso e o papel do utente como principal responsável por autorizar este aceso. Por fim, há que ter em conta todo o contexto legislativo referente à proteção de dados em vigor, e perceber como dados clínicos se enquadram (tendo em vista não só leis nacionais, mas também europeias).

Em suma, retira-se que grande parte das necessidades surge como resposta à grande e rápida evolução tecnológica que se tem feito notar nos últimos anos, nomeadamente no que respeita à adaptação não só de processos e procedimentos a esta nova realidade e qual a melhor forma de se incorporar a inovação (Inteligência Artificial, robotização, realidade virtual…) no quotidiano da prestação de serviços de saúde, como também dos próprios profissionais de saúde e pacientes, procurando respostas para como os incentivar a colaborar e participar de boa vontade neste projeto de crescente inovação. Neste seguimento, apresentam-se igualmente necessidades acrescidas que derivam de incertezas e questões que são levantadas por esta revolução tecnológica, sobretudo no que respeita à preocupação com a proteção de dados e como evitar uma desumanização da área da saúde.

Como aferido, várias soluções foram apresentadas como resposta a estas inquietações e necessidades, umas já a ser implementadas ou prontas para tal (uso da realidade virtual, telemedicina, etc.), outras ainda que mais distantes da realidade e ainda numa fase embrionária (estruturação e proteção de dados, interoperabilidade de sistemas, metaverso, etc.). Desta forma, havendo já soluções pensadas para diversas necessidades, resta uma maior colaboração e troca de ideias não só entre empresas tecnológicas e prestadores de cuidados de saúde como também entre as próprias unidades de saúde. Efetivamente, constata-se que muitos projetos bem sucedidos têm já sido levados a cabo individualmente, pelo que o próximo passo deverá passar por comparar diferentes métodos utilizados e respetivos resultados obtidos – sendo a concorrência de alternativas paralelas fundamental para o progresso – e posteriormente alargar estes processos com resultados favoráveis a outras unidades.

Resultou também a necessidade de existência de uma plataforma tecnológica que possa congregar projetos inovadores, considerados best practice, desenvolvidos por hospitais, universidades, centros de investigação e empresas, que com a devida curadoria científica possam ser usados nomeadamente por outros hospitais que pretendam implementar projetos inovadores partindo já de uma base de conhecimento e de experiência detida por hospitais que já implementarem projeto(s) semelhante(s), alavancando assim ganhos de eficiência em termos de custos e de tempo.

Este é um desafio que o grupo de trabalho do H-INNOVA: HEALTH INNOVATION HUB irá dar seguimento, estando já a receber projetos inovadores de hospitais que irão ser sujeitos a avaliação por parte de uma Comissão Científica para que, se for o caso, possam ser considerados best practice.

Finalmente, é de salientar que as soluções que vão sendo encontradas devem assumir um potencial enquadramento global, visando não só a resolução de problemas locais mas também de cariz universal, detendo a capacidade de poderem ser aplicadas não só no país mas também fora dele, assegurando uma escala necessária para a sobrevivência das soluções encontradas.

 

Resumo elaborado por Inês Lindoso (Nova School of Business and Economics)
Notas de apoio de Inês Lindoso, Lígia Ernesto e Pedro Pita Barros (Nova School of Business and Economics)
Revisto por Pedro Pita Barros (Nova School of Business and Economics)
Revisto por Telmo Vieira (PremiValor Consulting | ISEG -Universidade de Lisboa)


Setembro de 2023

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