Nova Sustainable Way of Life: Entrevista Exclusiva com Michael Parkes
Nova Promove | 21 maio 2021 Nova Sustainable Way of Life: Entrevista Exclusiva com Michael Parkes

Leia a entrevista exclusiva a Michael Parkes, CEO e fundador da Bios, na qual ele fala da sua inovadora startup Bios e de como utiliza energia e tecnologias com baixas emissões de carbono para criar sistemas integrados, como foi estabelecida a colaboração com a Nova SBE e o quão decisiva é a integração de tecnologias inovadoras e sustentáveis para garantir consumo e produção responsáveis.

 

O Michael é o CEO e fundador da BIOS, uma startup que usa o desperdício energético dos edifícios e tecnologias com baixas emissões de carbono nos sistemas operacionais dos mesmos para cultivar alimentos. Pode explicar exatamente como é tudo isto funciona?

A Bios integra sistemas de cultivo em espaços interiores com os dados do próprio edifício para recuperar o desperdício energético e melhorar a tomada de decisões para a otimização dos recursos em prol do funcionamento de todo o edifício. Avaliamos uma localização com base nos dados de quem dispomos para identificar materiais de desperdício (energia, água e outros recursos) e espaços sem utilização para as soluções de integração que temos. Estas incluem sistemas de cultivo de interior, produção de energia e equipamento de utilização e eficiência de recursos.

Isto pode aumentar o valor dos ativos e, enquanto cliente, a Building Integrated Operating Systems (Bios) faculta os dados para que sejam tomadas decisões de otimização de saúde (de seres humanos, plantas e da Terra) em edifícios tendo, também, acesso direto a dados que nos permitem respeitar a certificação dos ODS, do ESG – Environmental, Social, and Corporate Governance [modelo de governo ambiental, social e corporativo], gases de efeito estufa e edifícios verdes e sustentáveis. A capacidade de os clientes tomarem decisões com base em dados em tempo real impactará a qualidade de vida oferecida pelo local à sua comunidade no futuro.

A Bios usa o espaço, os dados subaproveitados e o desperdício energético dos edifícios para oferecer uma tecnologia limpa que cumpre os objetivos da neutralização das emissões de carbono. O nosso grande objetivo é transformar o futuro dos edifícios verdes para que assegurem a inclusão de postos de trabalho nessa área e acesso a alimentos frescos em áreas urbanas.


Dado o atual contexto, que diferença pode a Bios fazer ao criar condições de vida culturais e ambientais mais inspiradoras e em garantir uma gestão sustentável e eficiente da utilização de recursos naturais?

O cientista de sistemas que tenho em mim está sempre interessado em perceber a interação da energia biológica e ecológica com transações humanas e vice-versa. Estas, por si só, são geradoras de dados e é apenas através da integração de centros de dados com novas tecnologias que conseguimos compreender e melhorar o nosso impacto.

Houve uma mudança enorme na nossa compreensão coletiva para a necessidade de sermos mais conscientes para com o ambiente. Contudo, e no que diz respeito à utilização de recursos e identificação de intervenções sustentáveis, pode ser complexo definir isto. O impacto negativo das cadeias de abastecimento de comida e energia no ambiente são sobejamente conhecidas! Este é o resultado do cruzamento de sistemas corporativos e institucionais com o mundo natural. Os dados relacionados com o impacto de comida/energia existem em diferentes sistemas e podem ser utilizados para identificar e establecer um padrão no nosso impacto como agora o fazemos. Por este motivo, podem ser tomadas decisões para melhorar a eficiência da utilização de recursos e a gestão de negócios sustentáveis ao serviço do nosso recurso mais valioso – a Terra.

A cultura pode ser entendida como uma coleção de normas, comportamentos e ações e subsequente impacto no mundo. Em 2021, o poder do mundo digital em criar um comportamento coletivo de mudança à escala mundial, ao tirar partido do mundo digital em prol da saúde humana, não pode continuar a passar despercebido. Perante a calamidade dos dias de hoje, a Bios sentiu-se motivada a promover todos os atores e futuros clientes – os dados estão lá e podem ser utilizados para garantir condições saudáveis a todos os futuros ocupantes e podem ser comunicados de forma transparente para que a informação digital sobre o valor que trazem à comunidade possa ser utilizada.


Como é que a parceria com a Nova School of Business & Economics (Nova SBE) foi estabelecida e o quão importante é para a Bios?

Quando começámos a desenvolver a Bios, tivemos a oportunidade de participar no programa de aceleração Maze-X, em 2019. Foi numa daquelas festas de networking que um membro da equipa da altura conheceu alguém do GreenNova, um clube de alunos da Nova SBE (agora conhecido como oikos Lisbon), que sugeriu que conhecesse o Luís Veiga Martins, Chief Sustainability Officer da escola. Na altura, estávamos na fase em que já tínhamos alguns modelos de negócio básicos, avaliações de tecnologia e modelos de impacto energético.

Na altura, a nossa apresentação era “estamos a desenvolver uma tecnologia para melhorar a eficiência energética e a pegada carbónica de edifícios de grande consumo ao transformar desperdício energético em comida.” O objetivo era descobrir se havia interesse, em conjunto com a Bios, em serem pioneiros e criarem um protótipo no local. E depois de muito trabalho juntos, agora, em 2021, temos finalmente a nossa estufa instalada no campus.


Como é que a Nova SBE pode contribuir para o sucesso da Bios?

Há decénios que a agricultura urbana se tem tornado uma indústria emergente. Tem como objetivo produzir e melhorar o acesso a alimentos frescos em áreas com grande densidade populacional e isso é notável. O trabalho que outros pioneiros nesta área fizeram tem tido um contributo decisivo para jardins comunitários, escolas agrícolas e espaços agrícolas locais – importantes para o acesso a alimentos produzidos localmente. Ao trazer uma quinta para os degraus da cidade, a agricultura urbana pode trabalhar em prol da economia circular, inclusão social e mitigação das mudanças climáticas.

Existem diversos tipos de agricultura urbana e tecnologias usadas para haver impacto em todas as dimensões sociais, ambientais e económicas. A aceitação de diferentes tecnologias tem sido demonstrada na agricultura urbana e em soluções hortícolas em todo o mundo. Estando agora ativas e fazendo uso de alta e baixa tecnologia, a sua comunidade consegue combinar ambos para descobrir uma solução sustentável. Atualmente, o desafio da agricultura urbana é criar um negócio de modelo repetível e sustentável para trabalhar e manter uma quinta urbana. Acreditamos que isto pode ser possível através do que aprendemos com projetos passados para desenvolver negócios alimentícios/agrícolas comunitários. Este é o desafio perfeito para fazermos o teste com jovens adultos, empreendedores e membros da comunidade local, jovens ou idosos, ligados à Nova SBE – uma das escolas de negócio de topo da União Europeia.


O projeto mostra como produzir de forma sustentável fazendo das cidades um lugar seguro, resiliente e sustentável. A Nova SBE disponibiliza o espaço do seu incrível campus, mas também a sua comunidade. Pode dizer-nos como é que a comunidade da Nova SBE pode ter um papel decisivo em testar e melhorar o projeto? E pode explicar-nos um pouco melhor o que é pode – e o que já está – ser feito nesse sentido?

A Nova SBE está a mudar a forma como um campus, habitualmente destinado a fins educativos e comerciais, transforma a sua abordagem aos edifícios ao colaborar com a Bios. A Nova SBE tem um espaço sem utilização que é perfeito para uma estufa na qual a comunidade local pode consumir saladas. Deste modo, acrescentamos valor a um espaço subutilizado, uma câmara num espaço interior integrada com energia, água e sistemas de circulação de ar. Nesta, os dados são captados com a Internet das Coisas (Internet of Things – IoT) através de elementos como clima, nutrientes, vídeo, filtros e energia. A Bios, com o acesso aos centros de dados existentes e ao tratamento dos mesmos, oferece uma área de teste para analisar o impacto de todo o sistema para recuperar o desperdício de recursos enquanto melhora a sua eficácia. Serão produzidas anualmente 50 saladas por dia para consumo direto da comunidade através de serviços de restauração locais e do campus. Ao integrar a natureza no ecossistema diário do funcionamento dos sistemas climáticos, de água e energia, a Bios acaba por dar uma nova dimensão à análise da saúde do sistema vivo da Nova SBE.

Espero ansiosamente poder partilhar mais detalhes sobre as atividades no campus e sobre o nosso lançamento este ano. Fiquem atentos ao mês de junho!


A Nova SBE fez dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a sua língua oficial e pôs a sustentabilidade no centro do seu modelo de impacto. E a Bios? Dado que a Bios não se trata do típico projeto de horta vertical e que promove tanto tecnologias inovadoras e sustentáveis como uma produção e consumo responsáveis, diria que é definitivamente um projeto que tem a Agenda de 2030 na sua génese?

As mudanças de paradigma na forma como os edifícios utilizam eletricidade e dados exigem que repensemos a utilização de espaço e o desperdício na atividade humana quotidiana. O aspeto principal das tecnologias limpas é a integração para conseguir os objetivos combinados do compromisso global das Nações Unidas através da aplicação dos ODS em paralelo com o ESG – Environmental, Social, and Corporate Governance [modelo de governo ambiental, social e corporativo] para investir no aumento, a longo prazo, do valor dos ativos para proprietários e ocupantes. O desafio primário em relação à validação do impacto dos ODS e do ESG é o acesso a dados concretos em primeira mão dada a complexidade de diferentes estruturas.

Isto pode ser visto nas áreas dos atuais líderes da indústria de hortas verticais, nas quais têm uma abordagem diversificada para promover o impacto das suas soluções. Por exemplo, a Infarm e a Plenty focaram-se em apresentar os dados acumulados em comparação com algumas variáveis. Ao passo que a Aerofarms comunicou de forma clara o seu compromisso com os ODS 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 11, 13, 14 e 15. Estes líderes demonstram os benefícios do abastecimento de comida num sistema com uma produção mais eficiente por metro quadrado que reduz o desperdício, a distância desnecessária que os alimentos percorrem e a necessidade de ter trabalhadores humanos a gerar dados. Contudo, os dados disponíveis na indústria não são suficientes para produzir um ciclo de avaliação de como as plantas crescem, a sua pegada carbónica, os benefícios diretos para a saúde da comunidade e/ou o progresso total em relação aos ODS.

A indústria de horta verticais por si só já traz muitos benefícios às comunidades que serve. As tecnologias agrícolas estão tradicionalmente ancoradas no solo e na terra. A Bios procura abordar os múltiplos desafios urbanos num sistema de intervenção ao alavancar diversas tecnologias agrícolas combinadas com a Internet das Coisas (Internet of Things – IoT) para cultivar alimentos além do solo, i. e. dentro de ambientes verticais urbanos. Ao integrar tecnologias agrícolas com a energia dos edifícios, clima e centros de dados, oferecemos acesso direto a dados em tempo real e conseguimos dar indicações do impacto que a solução Bios tem.

Isto, claro, se queremos verdadeiramente atingir os objetivos globais e os compromissos feitos originalmente em 1992 com o Protocolo de Quioto, que foi negociado e mudado no decénio seguinte para o Acordo de Paris. Este foi adotado por 196 partidos na Conferência das Partes (Conference of the Parties – COP), em Paris, em 12 de dezembro de 2015, que entrou em vigor em 4 de novembro de 2016. Agora, cinco anos depois, está na altura de agir, de deixar de planear e de fazer com que os projetos-pilotos tragam valor à comunidade. É nisto que a Bios acredita ser o intuito dos 17 ODS e ao colaborarmos com comunidades cuja vontade de agir tem o apoio de infraestruturas corporativas e institucionais podemos tem um impacto enorme até 2030.

Deste modo, a Bios demonstra o impacto social e ambiental direto que tem e do qual a comunidade se pode orgulhar!

SDG 11- Fit WC: SDG 11 Strategic Priority SDGs Images Green Goals: SDG impact Content
 

Agora a pergunta mais óbvia. Que ODS cobre o projeto e tiveram o compromisso global das Nações Unidas em consideração quando a Bios começou a ganhar forma?

Decidimos que a melhor maneira de perceber o fluxo de materiais é através do metabolismo urbano para descobrir maneiras de fechar o círculo de materiais, como comida e água ou reduzir as emissões de CO2, através de eficácia energética. Isto fez com que percebêssemos que o nosso ponto de entrada eram os edifícios devido ao impacto coletivo que têm nas cidades. Enquanto agregadores de um grande espectro de materiais, o fluxo atual de materiais e energia nas cidades contribui com cerca de 60 % a 80 % das emissões de gases de estufa. Os edifícios da União Europeia, no seu maior pico de consumo, são responsáveis por aproximadamente 40 % do consumo final de energia.

O ODS 11 está na base do intuito da Bios pois pretende integrar a natureza com a tecnologia para criar espaços seguros e sustentáveis para comunidades e comércios.

A complexidade relacionada com as fontes e a criação de dados em tempo real em comparação com todos os ODS é difícil devido à complexidade inerente da conceção dos indicadores de cada ODS. Como na Bios adoramos um bom desafio com impacto positivo, decidimos que a intervenção para impacto sistémico na sociedade era através do ODS 11 – “Tornar as cidades e as comunidades humanas inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis.” A comida e a energia são fundamentais para garantir o sucesso do ODS 11 devido aos milhões de pessoas que se prevê que vivam nas nossas cidades em 2030, razão pela qual a Bios instigará novos diálogos sobre a produção de dados para levar a cabo novos padrões e medidas para cada um dos indicadores do ODS 11.

 

O projeto da BIOS e da Nova SBE sem dúvida que elevou a fasquia para as instituições de ensino superior. Dado que há tanto que pode ser feito em relação à Agenda 2030, o quão decisiva acha que esta parceria pode ser a longo prazo?

A abordagem da Bios tem os seus stakeholders primários no seu núcleo de ação usando dados integrados para criar um conjunto de benefícios para os edifícios e respetivas operações. A equipa responsável pela gestão é composto pelo Paulo Pereira, pela Julia Fernando e por mim. Juntos trazemos uma rica diversidade de competências para levar tudo isto a cabo nas comunidades de todo o mundo. É isto que dá o mote para levar a integração de sistemas mais além ao incluir comunidades na área da educação em negócios e operações agrícolas para oportunidades experienciais de aprendizagem. Os edifícios e os campi do futuro, dado a volubilidade do nosso contexto, precisam de ser resilientes e a intervenção da Bios ajuda a compreender melhor o que é necessário fazer agora para garantir e assegurar sustentabilidade [no futuro]. A Nova SBE tem também a oportunidade de dar vida a um campus digital através do projeto Cascais Smart Pole by Nova SBE ao integrar negócios comunitários.
 

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