Conheça Afonso Mendonça Reis, Antigo Aluno da Nova SBE - Entrevista Exclusiva
Nova Promove | 16 dezembro 2020 Conheça Afonso Mendonça Reis, Antigo Aluno da Nova SBE - Entrevista Exclusiva

Conheça Afonso Mendonça Reis, um antigo aluno bem-sucedido da Nova SBE, numa entrevista exclusiva na qual partilhou alguns dos momentos mais impactantes do seu percurso académico e profissional. Nesta entrevista, Afonso abordou ainda a sua nomeação enquanto Global Shaper, pelo Fórum Económico Mundial, em 2012, e enquanto Empreendedor Social, em 2019, em Portugal. Salientou também como ter trabalhado e viajado em mais de 70 países foi preponderante para fundar Mentes Empreendedoras, uma empresa social sediada em Lisboa que promove uma geração de cidadãos que criam impacto.

 

Que está a fazer atualmente? E qual a característica mais gratificante da sua carreira?

Só neste ano letivo, Mentes Empreendedoras impactou cerca de 5000 jovens. Também no âmbito do Global Teacher Prize Portugal e do Inspire your Teacher estamos a trabalhar para aumentar a importância do professor. Vivemos tempos únicos na educação e no mundo e sentimo-nos muito inspirados pela determinação e pelo compromisso dos nossos professores em fazer a diferença para os mais novos.
Acho que o aspeto mais gratificante do meu trabalho é a oportunidade de moldar aos poucos e poucos uma organização que interessa à nossa equipa e aos beneficiários. Gosto da clareza do propósito que, para o bem e para o mal, depende de nós. Além do mais, já se passaram dez anos, mas continuo a ter um enorme prazer em ver o quanto as pessoas crescem profissionalmente e pessoalmente trabalhando com e nas Mentes Empreendedoras. Na verdade, sinto o mesmo quando vejo alunos meus da Nova SBE a progredir na carreira. É um sentimento incrível ter tido a oportunidade de ter tido um contributo, mesmo que pequeno, para o seu percurso.


Sempre se sentiu fascinado pelo mundo do empreendedorismo? Porque é que decidiu começar o Mentes Empreendedoras?

Acho que não decidi tornar-me empresário, simplesmente aconteceu. Quando estava a morar em Zurique, em 2010, Portugal estava a passar por uma crise financeira. Como muitas pessoas que vivem no estrangeiro, reclamávamos dos erros de Portugal. A determinada altura, percebi que se continuasse a reclamar seria parte do problema. Lembro-me de ouvir a música “Movimento Perpétuo Associativo”, dos Deolinda, e de ficar impressionado com o quão bem capturava o nosso desafio coletivo, apatia ou de como estávamos à espera que alguém fizesse alguma coisa. Foi então que decidi que queria fazer parte da mudança e contribuir com uma solução. Com os 18 intercâmbios Erasmus + (e as perspetivas diferentes dos outros países europeus), alguma experiência de trabalho na OCDE e na ONU em educação e formação profissional, senti-me obrigado a começar a trabalhar em escolas nas quais poderia encontrar 400,000 alunos do ensino secundário. Estes poderiam aprender e ao mesmo tempo ter impacto e uma voz na sociedade. Depois de alguns anos a experimentar este modelo, tive de decidir se deveria criar ou não uma associação. Lembro-me de tomar café com o Eric Charas e do conselho que me deu, que foi: “experimenta por um ano. Se der certo, vai em frente. Se não der, faz outra coisa”. Lembro-me de ter pensado “faz sentido”. Uma coisa levou à outra e já lá vão dez anos.


Quem ou que experiências tiveram um impacto no seu percurso profissional?

O professor, e dean na altura, José Neves Adelino, que é hoje um dos administradores da Fundação Calouste Gulbenkian, fez-nos um memorável discurso de boas-vindas quando entrei para a Nova SBE. Disse “primeiro, os alunos das melhores business schools do mundo fazem 3,6 estágios até se graduarem. Segundo, a sociedade está a pagar pelos vossos estudos, por isso devem retribuir como podem. E terceiro, muitas dessas pessoas que estão agora sentadas à vossa volta serão vossos amigos, colegas de trabalho e os vossos parceiros de crime para aventuras e projetos de negócio”. Era tudo verdade e também ditou o ritmo.
Os intercâmbios Erasmus+ demonstraram como os jovens da Europa de Leste eram capazes de realizar projetos incríveis tendo menos recursos do que Portugal. A partir daí escolhi fazer um ano de Erasmus na HEC Lausanne. Lausanne era muito próxima das NU, em Genebra, e realmente instigou em mim uma grande curiosidade por desenvolvimento global. Tanto a experiência profissional como o intercâmbio com meus colegas da OCDE e da NU chamaram a minha atenção para os desafios globais e também me ajudaram a ver o mundo de diferentes formas. Ter sido nomeado “Global Shaper” pelo Fórum Económico Mundial, em 2012, em Zurique, foi definitivamente uma motivação para arriscar mais e avançar com a Mentes Empreendedoras. Ser desafiado pelo Daniel Traça para lançar a cadeira de Managing Impactful Projects, em 2014, possibilitou o meu regresso a Portugal e criou a tempestade perfeita para o crescimento gradual da Mentes Empreendedoras.


Que gostaria de saber na altura em que estava a graduar que só agora é que sabe?

Acredito que não mudaria muito. Ainda assim, estou mais ciente agora de várias fundações e programas que têm como objetivo ajudar os jovens a aprender, a conhecerem-se e a estreleceram ligações. Talvez tivesse feito um gap year na área de música.


Porquê esta área? Que lição trouxe consigo e a têm ajudado neste percurso?

Os 18 intercâmbios Erasmus+ deram-me uma perspetiva enriquecedora e diversa da Europa. A Fundação Aga Khan Portugal e a Aga Khan Development Network (AKDN) inspiram-me a trabalhar na área da educação, nomeadamente a expor-me à importância e ao potencial que o impacto em educação infantil precoce tem. A OCDE e a NU aprofundaram a visão estratégica que tinha do mundo e dos desafios existente na educação e formação.
A Swisscontact, a Agência Suíça de Cooperação e Desenvolvimento, ensinou-me a dar vida aos projetos. Levá-los a cabo em contextos tão diversos e desafiadores como os das Honduras, Benim, Tanzânia, Bangladesh ou Indonésia ensinou-me muito. Em primeiro lugar, somos todos humanos e muitos dos desafios sobre mudança de comportamento com os quais os meus colegas se depararam nos países em vias de desenvolvimento são muito semelhantes aos que vi, e vejo, em Portugal. Em segundo lugar, o impacto social vem da mudança de comportamento, que resulta de processos mais longos e não curtos. Em terceiro lugar, a menos que tenhamos uma forte experiência que nos faça mudar, sentimo-nos normalmente inspirados a mudar pelas pessoas em quem nos revemos e que nos são relativamente próximas.


Que competências adquiriu no seu percurso académico e quais são as que têm sido fundamentais para a sua carreira?

Intuição económica, finanças e contabilidade, marketing, análise de políticas, econometria e métodos quantitativos.


Como conseguiu o seu primeiro emprego depois de se graduar? Que passos deu e que conselhos daria aos que estão agora a começar?

Fui freelancer nos primeiros três a quatro anos. O meu primeiro “trabalho” foi na Fundação Aga Khan. Ouvi falar de um acordo entre o governo português e a AKDN e quando os contactei para obter mais informações disseram-me que havia uma oportunidade de trabalho. Sejam proativos durante os vossos estudos, falem sempre com toda a gente e participem em discussões sobre os tópicos que mais vos interessam. E quando conhecerem alguém, façam sempre “os trabalhos de casa”.
 

Que memórias do seu tempo enquanto aluna da Nova SBE mais estima?

Os meus colegas, algumas discussões com os docentes – muitas vezes depois das aulas – e do meu ano de Erasmus.



Que conselho tem para dar aos alunos que agora se estão a graduar?

Sejam curiosos e tomem muitas decisões, boas e más. Isto será útil para aprenderem o que gostam de fazer, o que conseguem ou não fazer e será como um guia que os ajudará a tomar decisões mais ponderadas e, desta forma, estar em paz tanto com os sucessos como com as lições aprendidas. Neste mundo de tantas possibilidades e mudanças permanentes, será como um navegador português no século XVI. Levantarão âncora e içarão velas com um objetivo em mente, mas a viagem que farão levar-vos-á para a esquerda ou para a direita dependendo dos ventos e de muitos outros fatores imprevisíveis. E, por fim, aproveitem a viagem e confiem no processo e na viagem que se propuseram a fazer.

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