O Nobel de Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer
Mundo | 16 outubro 2019 O Nobel de Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer

Esta é uma distinção merecida para a nova economia empírica, que gera evidência para informar as políticas públicas, no combate à pobreza e pelo desenvolvimento sustentável. Os investigadores galardoados inovaram na utilização dos métodos experimentais. Mas a sua grande contribuição é lembrarem-nos de que a ciência económica precisa de estar perto das pessoas para tentar melhorar o mundo. Esta linha de investigação é uma das traves mestras do nosso Centro NOVAFRICA desde a sua criação em 2011.

Este é o Prémio Nobel para a nova economia do desenvolvimento, e até nova economia até certo ponto. A economia que põe o acento tónico na análise empírica, na evidência para guiar as políticas públicas, nomeadamente de luta contra a pobreza. Que trouxe de volta a economia para perto das pessoas, ciência que quer ser útil à humanidade.

De notar que todos os três economistas são relativamente jovens. A Esther Duflo, além de ser apenas a segunda mulher a ser galardoada com o prémio Nobel da Economia, tem apenas 46 anos. É a mais nova pessoa a quem foi atribuído o prémio Nobel da economia (Kenneth Arrow com 51 era o mais novo até ontem). Este é um sinal claro da grande influência e inovação destes investigadores, em especial da Esther Duflo, a força motriz deste grupo de economistas.

Como economistas do desenvolvimento exemplares, as contribuições destes galardoados são variadas. Banerjee dedicou particular atenção à economia política e ligação com teoria económica. Duflo escreveu alguns dos artigos mais importantes que existem sobre o papel da mulher no desenvolvimento. Ambos ajudaram a trazer evidência concreta sobre o real (e modesto) impacto do microcrédito nos resultados de desenvolvimento. Kremer ficou na história pelo artigo que descobriu a ligação entre o tratamento simples e barato dos vermes intestinais e a diminuição do absentismo escolar.

Acima de tudo, este prémio consagra o esforço sistemático do grupo de economistas do desenvolvimento do MIT Poverty Action Lab desde os anos 90 de chegar com ciência ao mundo em desenvolvimento, em contacto direto com populações e parceiros locais de desenvolvimento, perguntando de uma forma metódica o que funciona e o que não funciona na luta contra a pobreza e pelo desenvolvimento sustentável.

Este grupo iniciou a aplicação de métodos experimentais no contexto de avaliação de impacto de intervenções ligadas ao desenvolvimento económico. Estes métodos permitem o estabelecimento de causalidade entre políticas públicas específicas e resultados junto dos beneficiários. Hoje em dia todas as grandes instituições de luta contra a pobreza ao nível mundial, Banco Mundial, doadores bilaterais (DFID, USAID, agências Nórdicas), ONGs internacionais, trabalham em conjunto com investigadores da área de desenvolvimento graças ao trabalho pioneiro destes economistas.

Em Portugal, desde 2011, o nosso NOVAFRICA, que é o centro de conhecimento da Nova School of Business and Economics dedicado a investigação sobre economias Africanas, tem já uma longa lista de trabalhos experimentais em Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Quénia, Gâmbia, em áreas diversas como a inclusão financeira, educação, saúde, economia política e governança, migrações, em relação estreita com parceiros locais e internacionais. Desde 2011 obtivemos mais de 6 milhões de euros de agências internacionais para fazermos este trabalho de investigação, o que nos põe na frente da Europa nesta área.

Estamos muito contentes e até orgulhosos de fazer parte deste movimento que põe a ciência económica ao serviço das pessoas, nomeadamente daquelas que mais dificuldades enfrentam e menos oportunidades têm pelo mundo fora. Este é um desafio coletivo único que nos deve tocar a todos na universidade.

 

Este texto foi escrito pelos professores Cátia Batista e Pedro Vicente, Diretores Científicos do Nova SBE NOVAFRICA Knowledge Center, sobre os três galardoados do prémio Nobel em Ciências Económicas.
A ilustração pertence a Johan Jarnestad e à Real Academia Sueca das Ciências.