Leitura do mapa sistémico:
Este mapa sistémico reflete o contexto da educação das pessoas com deficiência na transição para a vida ativa – o segundo tema que o ICF optou por trabalhar – tendo em conta o objetivo último que se propôs a alcançar: reforçar a capacitação de pessoas com deficiência para a vida ativa. Este mapa conta, por conseguinte, a história de como podemos atingir este objetivo.
Ao realizar o diagnóstico sobre este tema, a equipa do ICF entrevistou muitos e diferentes tipos de atores que ajudaram a compreender o contexto da educação das pessoas com deficiência (nomeadamente o que já existe e corre bem, o que existe e não corre e o que faz falta para que corra melhor) para que a sua capacitação para a vida ativa seja reforçada. No entanto, este não é um mapa do problema, mas um mapa do contexto. E, por isso, não falamos em problemas, mas em variáveis. Assim, este mapa reflete as variáveis que podemos e devemos influenciar para que a capacitação de pessoas com deficiência para a vida ativa seja reforçada.
A verde encontram-se sete variáveis. Estas são aquelas a que chamamos de variáveis principais porque têm uma influência grande e direta sobre o objetivo final. Agindo sobre cada uma dessas variáveis, atingimos o objetivo proposto. Por exemplo, algo que nos disseram ser fundamental para reforçar a capacitação das pessoas com deficiência para a vida ativa – e que estava em falta – era dotar as pessoas com deficiência de competências sociais como, por exemplo, a comunicação e a autonomia. Deste modo, o desenvolvimento de competências sociais tem um impacto relevante e direto na capacitação destas pessoas. O mesmo acontece com o impacto da capacitação dos docentes para ensinar pessoas com deficiência, do alinhamento entre o que a educação e a formação dão e o que a vida ativa exige, e por aí adiante.
As restantes variáveis, às quais chamamos de variáveis secundárias, ajudam-nos a compreender o contexto que está na origem das variáveis principais para que seja claro onde se deve atuar para influenciar as variáveis principais e, consequentemente, o objetivo final.
Ao percorrermos o mapa, vemos como este sistema se comporta e percebemos que todas as variáveis acabam por estar correlacionadas entre si. A alteração de uma leva a alteração das outras. Isto acontece porque fazem parte de um sistema, i. e., o sistema de capacitação das pessoas com deficiência para a vida ativa, e é importante compreender como funciona para que saibamos navegar pelo mapa e compreender o comportamento de cada variável.
Comecemos a leitura do mapa pela variável número 1 – a capacidade da escola preparar para a vida ativa. Quanto maior a capacidade da escola em capacitar as pessoas com deficiência para a vida ativa, maior será o seu desenvolvimento de competências (nomeadamente as competências sociais, como é o caso da autonomia). Naturalmente não é apenas a escola que tem um papel fulcral no desenvolvimento das competências sociais. Também as IPSS e a sua capacidade em preparar as pessoas com deficiência para a vida ativa, a motivação das próprias e das suas famílias e o nível de isolamento e segregação têm um papel preponderante. Por exemplo, quanto menos isoladas e segregadas estão as pessoas com deficiência, maiores são os estímulos e, por isso, maior o desenvolvimento de competências sociais.
Esta é a segunda variável principal deste mapa – o desenvolvimento de competências sociais. A vida ativa exige competências sociais a toda a gente e as pessoas com deficiência não são exceção. Assim, um maior desenvolvimento de competências sociais por parte das pessoas com deficiência leva a um maior alinhamento entre aquilo que a educação e a formação dão e o que a vida ativa exige.
Por sua vez, uma educação alinhada com aquilo que a vida ativa requer facilita, por um lado, a capacidade de resposta das empresas para incluírem as pessoas com deficiência e, por outro, uma maior capacidade de adaptação das pessoas com deficiência a ambientes diferentes e exigentes, os quais pautam o mercado de trabalho.
Olhemos primeiro para o efeito nas empresas, uma vez que um maior alinhamento reforça a sua capacidade de resposta para a inclusão de pessoas com deficiência. Quanto mais capazes as empresas se sentem de incluir pessoas com deficiência, mais dispostas vão estar para abrir as suas portas a experiências vocacionais no âmbito do Plano Individual de Transição (PIT) – esta é uma ferramenta muito importante que é utilizada nos últimos três anos de escolaridade obrigatória para pessoas com deficiências. Por sua vez, ter experiência no mercado de trabalho durante o período de formação ajuda a alinhar ambos, pelo que existe uma ligação direta neste sentido entre estas duas variáveis. Um maior alinhamento entre a educação e a vida ativa leva, por este motivo, a uma maior capacidade de adaptação a ambientes diferentes e exigentes, como já referido anteriormente.
E quanto maior for a capacidade de adaptação a ambientes diferentes e exigentes, a par de uma orientação vocacional adequada resultante da ambição e exigência para com as pessoas com deficiência, mais exigentes percursos de educação são considerados para e pelas pessoas com deficiência (como é o caso do ensino superior). De facto, frequentar o ensino superior leva, de novo, a um maior alinhamento entre a educação e a vida ativa.
Fechando o loop das variáveis principais e voltando à primeira variável principal deste mapa, quanto maior for a capacidade das pessoas com deficiência em adaptarem-se, maior é a capacidade das instituições em também se adaptarem a elas, nomeadamente na escola. E, assim, maior a capacidade de a escola conseguir preparar as pessoas com deficiência para a vida ativa. No entanto, há uma variável muito importante que determina esta capacidade: a capacitação dos docentes em ensinar pessoas com deficiência. Esta é essencial e muito direcionada à capacitação das pessoas com deficiência para a vida ativa, pelo que também é considerada uma variável principal.